ADVENTO: TEMPO DE PLENO DE ESPERANÇA
Rev. Márcio Retamero(*)
“Vigiai,
pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à
meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã; para que, vindo ele
inesperadamente, não vos ache dormindo. O que, porém, vos digo, digo a todos:
vigiai.” (Marcos 13.35-37)
Foi assim que Jesus terminou
seu “Sermão Profético”, conforme registrado no Evangelho segundo São Marcos.
Estavam no Monte das Oliveiras, defronte ao Templo, assentado com Pedro, Tiago,
João e André, os filhos do “trovão”. Partiu deles a pergunta urgente: “Dize-nos
quando sucederão essas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem
para cumprir-se” (Marcos 13.4). Ele respondeu citando alguns sinais já sabidos por
aqueles que conheciam o gênero literário e as palavras do que chamamos de
“apocalipsismo judaico”. Nada de novo, senão, o final, importantíssimo da
parábola chamada “da figueira”. Ninguém, senão o Pai, sabe quando ocorrerão
tais coisas, nem os anjos, nem o Filho o sabem. Portanto, “Vigiai” (agrhypneite: sair do sono).
Já nos encontramos
exatamente no meio deste Tempo chamado Advento: Tempo de espera daquele que
vem; Tempo de Sobriedade e de Vigilância; mas, igualmente, tempo de Lembrança e
de reviver o Natal do Senhor Jesus. Vejam a sabedoria da Igreja: ela nos
convida a todos, neste Tempo de “escuta”, de reflexão sincera e forte, não
apenas a olhar para trás, para o já seguro, para o já acontecido, ou seja, Deus
se Encarnou, O Verbo se Fez Carne e entre nós habitou: Emanuel, Deus que
caminha Conosco veio, contudo, voltará! Logo, a Igreja nos convida a um duplo
movimento que o olhar pode captar: ao passado para relembrar o que Ele fez, o
que Ele falou, o que Ele nos proclamou enquanto sua tenda estava armada entre
nós, todavia, a olhar para a frente, para o porvir: Ele virá! Quando? Nem Ele o
sabe, nos diz o Evangelho de Marcos, nem anjos sabem. Somente o Pai. Por isso,
o convite muito sério: “saiam do sono!”
A Igreja, neste Tempo de
Espera da Vinda do Kyrios, nos pede
para cobrir de roxo o Ministro da Palavra que traz a Mensagem de Esperança; o
mesmo roxo que cobre a Mesa da Comunhão e o Púlpito – terra santa, onde até
mesmo anjos tremem pisar! – de onde se proclama tal mensagem que não nos
convida ao medo do apocalipse, mas à vigilância sóbria e feliz esperança, posto
que a mensagem da Igreja, “...o Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Marcos
1.1) nos afirma: já veio e se completou nossa salvação! Ele, Jesus, o Kyrios, o Filho de Deus, já consumou a
obra a nosso favor e a recebemos pela graça e pela fé que em nós operou
eficazmente, de maneira que o medo não faz parte do nosso viver em fé e na fé
em Cristo. O roxo não é para nos causar medo ou espanto, mas para nos lembrar a
vigilância e a sobriedade.
Neste capítulo 13 do Evangelho
de Marcos, a Igreja, representada pelos quatro mais íntimos do Senhor, também é
convidada a subir ao Monte das Oliveiras, defronte ao Templo, para
escutar/relembrar as palavras e ações do Salvador. Monte das Oliveiras e Templo,
agora no sentido existencial: o monte das nossas vidas, o templo que somos nós,
esse nós é cada um e cada uma, mas igualmente é o coletivo, a Igreja. Ele nos
convida a sermos os porteiros (thyrôroi)
deste edifício chamado vida humana: porteiros que, em meio às densas trevas de
um mundo que está completamente mergulhado nelas (guerras, fome, inimizades,
cerceamento de fronteiras e construções de muros, atentados terroristas,
ameaças à vida de todo ser humano) e que sabem que tudo isso passará, proclamam
a chegada do Senhor, a já ocorrida e a que está para vir (Parousia).
Porque sabemos que tudo
passará, exceto Sua Palavra; porque sabemos que a obra já está consumada e a
Páscoa, a Passagem da Morte para a Vida, ou melhor, a derrota da Morte já
ocorreu, e que, todavia, estamos num hiato em meio à História que proclamamos
essa Boa Nova, esse Evangelho. plenos de esperança (não é disso que o mundo tem
fome, esperança, uma esperança que não engana, antes, nos mantém firmes em meio
a tudo o que vivemos?). E o fazemos vigilantes, posto que devemos sair do sono
(esta é a mensagem central do Advento!), o sono que nos traz torpor, sono que
nos traz sonhos que são devaneios, sono que também nos traz pesadelos inúmeros que
nos assolam a alma.
Sair do sono e estarmos
acordados esperando o Senhor é mensagem que não aliena, antes, é mensagem que
desperta, que nos desperta para a realidade que nos circunda e, no meio dessa
roda viva chamada vida, proclamarmos a esperança de um novo Céu, de uma nova
Terra, da possibilidade de alegria, paz e abundância: a Era Messiânica que já
veio e não vivemos ainda suas promessas, ainda vivemos em meio ao deserto,
porque o mundo ainda não ouviu, não cumpriu as ordenanças que Ele nos deixou.
Por isso, a possibilidade de, na proclamação da Boa Nova, a Metanoia, a nossa,
a da Igreja, a do mundo inteiro! Por isso não podemos dormir, somos os
porteiros do edifício da humanidade, que esperam atentos e trabalhando Aquele
que vem ao nosso encontro nos salvar de nós mesmos e de tudo o que somos nós –
cada um, cada uma, até mesmo a Igreja –, somos capazes de produzir de mal e nos
converter, girar o barco da existência para outro o rumo, o rumo por Ele
apontado, para vivermos plenamente o tudo o que Ele mesmo nos prometeu, o
Reino, que não está ali ou lá, mas aqui, em nós, na Igreja.
Cobertos com o roxo da sobriedade, proclamemos a Esperança, cheios dela! Ele veio, Ele vem! Olhemos para o Alto: está próxima a nossa libertação!
(*) Rev. Márcio Retamero colabora com Calendário Litúrgico - Liturgia Reformada.
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