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LEITURAS DO LECIONÁRIO REFORMADO para o 23º Domingo após Pentecostes, 23 de outubro de 2016, Ano C, Cor Litúrgica: Verde.

O fariseu e o publicano

Antigo Testamento: Joel 2.23-32

Salmo 65 ou Jeremias 14.7-10,19-22 ou Salmo 84.1-7

Epístola: 2Timóteo 4.6-8,16-18

Evangelho: Lucas 18.9-14


"DIGO-VOS QUE ESTE DESCEU JUSTIFICADO PARA SUA CASA, E NÃO AQUELE; PORQUE TODO O QUE SE EXALTA(*) SERÁ HUMILHADO; MAS O QUE SE HUMILHA SERÁ EXALTADO." (Lucas 18.14)

(*) A autoexaltação e a desmoralização do outro estão em alta na sociedade nestes tempos. A ascensão das redes sociais fez com que as pessoas expressassem suas opiniões sobre as vidas alheias, muitas vezes, sem saber que a comparação para uma vida considerada perfeita é com a sua própria. Jesus Cristo, nessa parábola, mostra mais do que a arrogância do que se exalta perante Deus, comparando-se com alguém que ele considera inferior. Ledo engano e uma falta de conhecimento do que Deus deseja. Até compreendo isso quando vejo que a base da fé daquele fariseu era um Deus altamente jurista, legalista e moralista. Jesus Cristo, o próprio Deus entre nós, entendeu o peso das leis e percebeu a importância de se colocar mais próximo das criaturas e compreender-lhes a vida, o sofrimento, a incapacidade. O que Jesus mostra além disso é a necessidade, e o que se mostra mais importante, de reconhecer a condição humana. A criatura de Deus é totalmente incapaz de se estabelecer sem a ajuda do seu Criador. Jesus aponta isso como o mais sincero reconhecimento que faz aproximar de Deus. Sem isso, o ser humano precisará de eventos que lhe façam reconhecer sua pequenez. Esses eventos podem ser chamados de "humilhação". Jesus deixa claro que a falta de humildade pode levar à humilhação. Sem humildade, você pode entrar na lista dos "humilháveis". Com humildade, o publicano foi elevado à condição de exaltado. Deus mesmo o justificou pela sua atitude de reconhecer sua condição de pecador e de total necessitado da grandeza de Deus. Exaltar-se, principalmente em comparação a outros, é uma atitude eivada de problemas, entre os quais, podemos citar alguns dos que nos lembramos (afinal, é uma lista bem grande): 1. Imaginar-se mais importante que as outras pessoas; 2. Sentir-se na posição de julgador; 3. Determinar a sua própria justificação e salvação; 4. Declarar, subjetivamente, que sua perfeição pode lhe dar a capacidade de prescindir de Deus; 5. Apresentar-se como mais importante que os outros... enfim! A lista, como podemos perceber, é muito maior que isso. Perceba que essas atitudes podem ser comparadas a se colocar no lugar do próprio Deus. Esse foi um dos pecados que apartaram o ser humano da presença de Deus e os levou, consequentemente, a serem expulsos do paraíso. Os dois são: a pretensão de discernimento absoluto e de autossuficiência, condições essencialmente divinas. Vejamos, entretanto, que há, sim, um julgamento de atitudes nessa parábola. Mas ela é feita pelo próprio Jesus Cristo. A sentença, oferecer ou não a justificação e a exaltação, é dada pelo próprio Deus. Portanto, o que fica da parábola é o conselho para que não façamos julgamentos, muito menos comparando a outra pessoa com a nossa vida. Nós podemos até ter a vanglória de nos considerarmos grande coisa, mas olhando profundamente para a condição humana, tudo é vaidade. A outra face dessa moeda é que não conseguiremos olhar para o outro e vislumbrar tudo mesmo que há no seu coração. Isso, Deus mesmo pode fazer. Quanto às atitudes, Jesus Cristo nos alerta, nos orienta e nos dá conselhos e exemplos. Buscar a humildade e o não julgamento condenatório significa não se colocar na posição do próprio Deus, e não se arriscar a entrar na lista dos "humilháveis". 

Multis Lingua Nocet Nocuere Silentia Nulli!


Publicado toda quinta-feira (ou perto disso) por aqui e no Twitter @revsandroxavier.


Imagem: "O fariseu e o publicano", afresco na Abadia de Ottobeuren.

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