MINHA VISÃO REFORMADA DO CARNAVAL
Vem chegando o carnaval e, com ele, toda uma negação do seu intento no caminho religioso.
Infelizmente, muitos cristãos tratam o carnaval como algo totalmente antirreligioso, amoral, puramente hedonista (na sua pior concepção) e apartam-se dele em quaisquer sentidos.
Diante disso, a maioria das igrejas estimulam os fiéis a participarem de retiros. Quando um retiro significa pura e simplesmente sair para um lugar afastado e aproveitar o feriado, os dias livres, para partilhar de bons momentos com os irmãos e irmãs, tudo bem. Estamos dentro do sentido (retirar-se).
Já me faz entender outra coisa quando uma congregação cristã chama os crentes para um "retiro espiritual", propagandeando somente estudos bíblicos, oração, jejum etc. Não estou dizendo que isso não pode ser feito, pelo contrário. Se este é o único momento do ano em que você faz isso, saiba que não tem nada de fidelidade nisso. O cristão é chamado a refletir sobre a Palavra de Deus e orar TODOS OS DIAS. Seu retiro deve ser diário. Você deve ter um momento para isso.
Por outro lado, dias retirados com irmãos para esse propósito são altamente saudáveis e necessários. O carnaval poderia ser utilizado para isso, sem dúvida. Mas...
Ocorre que o calendário litúrgico nos convida para, após o carnaval, vivermos a Quaresma: 40 dias de jejum, oração, reflexão da Palavra de Deus, contrição, arrependimento, purificação, privação, profunda reflexão, despojamento, retorno, libertação e fraternidade. São 40 dias de recolhimento espiritual, em lembrança e comunhão com Jesus Cristo que jejuou e orou no deserto.
É claro que é mais vantajoso trocar 40 dias de privação por somente quatro. Mas não creio que as pessoas estejam fugindo da Quaresma. Para mim, há o estímulo de lideranças que não têm o menor conhecimento do movimento que o calendário litúrgico proporciona. Ele não é primazia da Igreja Romana, nem foi abolido por nossos Pais Reformadores, pelo contrário. Somo a isso a total ignorância (no sentido estrito da palavra) e falta de zelo de pastores e líderes quanto a isso.
Para mim, aproveito o carnaval para seguir minha vida devocional e "curtir" com família e amigos alguns dias de lazer, preparando meu espírito para 40 dias de profundo mergulho espiritual na minha vida e atitude dentro do que Jesus Cristo nos ensina e traz de exemplo. Sugiro que isso seja feito e que possamos, DE VERDADE, viver a Quaresma: momento rico de comunhão com o Espírito Santo de Deus.
Se a maioria das pessoas do mundo utiliza o carnaval para destruir seu corpo e sua moral, nós lamentamos a utilização ruim para esses dias, que podem ser abençoados. Mas, irmãos e irmãs, convenhamos, isso também é feito nos feriados da Semana Santa e no Natal.
Muitos negligenciam os dias reservados a comemorar e rememorar datas importantes da vida cristã. O domingo de carnaval é, antes de tudo, para nós (ou deveria ser), o Domingo da Transfiguração do Senhor. Na sua igreja você já aprendeu isso? Já foi ensinado ou estimulado a viver esse momento?
Como vive sua igreja esses dias? Você vive a Quaresma? Você comemora Pentecostes? Ou os dias são contados somente como Dia dos Namorados, Dia dos Pais e Dia das Crianças? (datas somente seculares e nada cristãs?) Acha, também, como eu, que há algo errado com a pedagogia da Igreja, que deveria ser voltada ao ano cristão?
Acredite, também, que no carnaval há pessoas que procuram alegria, congraçamento, passeios, música, folclore, história, fantasia, para se divertir como família, sem essa coisa única que passa ideia de consumismo sensual, hedonismo sem responsabilidade ou bebedeira irresponsável. Sim, isso existe!
Bom carnaval e prepare-se, nestes dias, para viver momentos de grande comunhão e mergulho na proximidade com o Espírito Santo. Seja solidário com Jesus e aprenda, no tempo da Quaresma, com ele, que passou 40 dias no deserto orando, jejuando, resistindo ao mal e refletindo na vontade de Deus.
Abraços fraternos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
Sandro Xavier
Teólogo Presbiteriano
Administrador de Calendário Litúrgico - Liturgia Reformada
Que texto refrescante! A alegria parece fazer mal a muitos cristãos, por isso não se alegram e nem deixam que outros o façam. O protestantismo brasileiro (presbiteriano em especial - do qual também faço parte) ainda vive ideal de puritanismo asceta doentio. Ainda vale a pena lutar por uma igreja com os pés no chão. Parabéns Sandro!
ResponderExcluirVale sim, Guilherme. Às vezes ficamos com algumas cicatrizes, mas o que é isso comparado às feridas do nosso Senhor Jesus Cristo, não é mesmo?... abraço e obrigado!
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