POEMA AO DEUS DESCONHECIDO
ainda estava escuro
quando vi Deus.
Vestia-se de vermelho
camisa puída
carne enegrecida
catando lixo
para ter seu pão de cada dia.
Então recordei
que o Verbo se faz carne
e que a carne do Verbo
não habita em mansões
mas está nas palafitas,
favelas, periferias;
na rua, onde de fato habita
catando a Santa Ceia
dos lixões.
Rei dos reis
monarca do universo
é o que pensamos dele
E por isso o ignoramos
quando ele nos aparece encarnado
miserável, faminto, sujo
pedindo o pão de cada dia.
É o Verbo se encarnando
e nós o ignorando
porque cremos num Deus distante.
Mas Deus está nos barracos
sendo despejado
Com socos, água fria, fogo e bala;
saindo no meio da madrugada
assustado e com medo
e uma elite dizendo: "Bem feito!"
e depois vão às igrejas orar.
Mas o Verbo se faz carne
muitas vezes só pele e ossos
pedindo uns trocados
para matar a fome.
E quando o veem
dizem: é um drogado
É vagabundo
Dê a vara, não o peixe
e o deixam ser morto
pela fome que queria matar.
O Verbo se faz classe
está encarnado no trabalhador
que sai de madrugada
e só volta à noitinha;
O trabalhador explorado pelo patrão
esquecido por seus representantes
que criam leis injustas
e o forçam a ter vida sem viver.
Deus é a carne da mulher
violentada pela sociedade
que a culpa pela existência do mal
que faz dela um objeto sexual
pronta pra ser invadida
e ter sua dignidade vilipendiada
e ferida
e ser espancada e morta
quando diz NÃO.
Deus é o pobre negro favelado
morto a tiros
[por ser negro pobre favelado
estigmatizado como bandido
[por ser negro pobre favelado
e das rodas sociais banido
pelos brancos
de uma elite que não o tolera
[por ser negro pobre favelado.
Deus é carne
"Creio na ressurreição da carne"...
É ferida presente no tempo
Rejeitado, morto, esquartejado
Porque se aprendeu a crer
num Deus distante
acima de todos
Enquanto que ele é Emanuel!
Felipe Catão, filósofo
28 de março de 2019
Imagem em www.cebi.org.br
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